Localizado no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, mais conhecido como Pedregulho, foi projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy em 1947 para abrigar funcionários públicos do então Distrito Federal. O projeto marca um momento de reconhecimento internacional das obras arquitetônicas e urbanísticas de Reidy, além de ser mais uma obra que mostra a grande parceria que tinha com Carmem Portinho.
O conjunto é uma daquela obras em que a arquitetura reflete claramente os anseios de uma sociedade em pleno desenvolvimento. Num momento especial da atividade profissional do arquiteto no Brasil, o Pedregulho catalisa os temas da habitação, da educação, do bem-estar e da inovação, trabalhando todos eles em sinergia em busca de uma ideal/real transformação da sociedade.
Para conversar com a gente convidamos Helga Santos da Silva, arquiteta pela Universidade Federal Fluminense, com mestrado e doutorado no PROARQ da UFRJ. A Helga é uma das principais estudiosas do Pedregulho, inclusive morou no conjunto durante seus estudos e formação em arquitetura, do seu TFG até a finalização do doutorado.
O Pedregulho foi parte de um contexto de transformação nas diretrizes de políticas públicas voltadas à habitação. Através do Departamento de Habitações Proletárias (DHP), o Estado estruturou os mecanismos burocráticos e financeiros para viabilizar seu projeto desenvolvimentista de país, atuando, junto à profissionais gabaritados, de forma inovadora na concepção de um novo paradigma sobre as condições qualitativas do habitar urbano. A arquitetura, nesse sentido, teve papel fundamental.
A inovação programática do conjunto, ampliando o escopo do habitar para além da moradia, foi associada a uma crescente indústria da construção civil, que fornecia os subsídios materiais à construção do ideal modernista, já consolidado na imagem do país e de sua arquitetura. A intenção era produzir em massa projetos habitacionais de grande sofisticação espacial.
A resiliência do Pedregulho, enquanto espacialidade social e arquitetônica, faz do conjunto objeto consolidado de admiração e estudo por parte de estudantes e profissionais do campo. Ao longo dos anos, tudo mudou: atividades, moradores e administradores. Mas, para nossa sorte, as premissas que orientaram as decisões de projeto à época da sua concepção, parecem ainda manter sua importância para aqueles que, hoje, se apropriam e dão sentido ao lugar.
Ouça a entrevista.
Texto por Aline Assis.